
Cerveja na geladeira, amigos reunidos esperando o futebol, um pula-pula de canais e de repente aparece dois personagens de kimono na televisão em uma eliminatória de karate, eis que alguém diz ‘olha um campeonato de arte marcial’. Ledo engano.
Sim caros amigos, vai doer o que vou dizer, mas não existe ‘campeonato de artes marciais’ passando na TV, e muito menos no ginásio de esportes da sua cidade e anos luz de distância das academias de ‘luta’. Isso não é uma falta de respeito ou uma afronta, há que se entender o que iremos dizer.
Um esporte não é uma Arte Marcial. A Arte Marcial é uma essência latente expressada no sangue guerreiro do ser humano, adaptando uma cultura a algo natural de nossa espécie (estudaremos futuramente o termo ‘arte’ e sua expressão como domínio de um dom).
Campeonatos e eliminatórias de lutas olímpicas são sim, maravilhosos e devem ser valorizados e respeitados, porém, não confundamos a extensa busca de títulos esportivos com o espírito de um verdadeiro lutador.
Ok, você é um entendedor de Artes Marciais e diz que eu estou errado. Pois bem, lembremos do ano 2000, onde o lendário Taekwon-do tornou-se oficialmente um esporte olímpico. Se você treinava nessa época sabe que muitos professores esperavam ansiosos para que esse momento chegasse, e, infelizmente, muitos abandonaram a Arte Marcial quando viram no que ela se transformou “um sistema vendido e fraco”. Hoje, qualquer pessoa frágil e fraca pode se graduar na arte em até três anos, tornando-se um faixa preta, e ainda mais, professor do estilo. A essência foi-se embora junto com professores ilustres como o grande Mestre Marcos de Goiás. É claro, existem muitos artistas marciais no taekwon-do e magníficos professores, porém, a banalização do mesmo o derrubou.
E essa popularização errônea das Artes Marciais já estão corrompendo outros esportes, como o Jiu Jitsu, onde lutadores de MMA pegam facilmente graduação preta do estilo sem ter um único mérito na arte marcial (que é um requisito predominante para garantir graduações elevadas).
Ser graduado em uma Arte Marcial vai além de amarrar uma faixa preta na cintura e dar chutes altos. É uma responsabilidade que vai do caráter físico ao segmento intelectual do lutador, transformando homens e mulheres em verdadeiros sábios. Então caros leitores, não vamos confundir esses dois mundos (esporte e Artes Marciais), há que se separar muito bem estes dois opostos.
Quero ser um praticante de Artes Marciais
Quer mesmo? Ótimo. Primeiro passo: esqueça campeonatos. Isso mesmo, um praticante de artes marciais não deve treinar para querer superar outros senão a si mesmo. Segundo: esqueça apresentações. A maior afronta a uma Arte Marcial é uma apresentação pública, lembre-se que você deve treinar para si mesmo, e não pra mostrar para os outros (você poderá testar sua técnica e sua força, mas discutiremos isso futuramente, agora, você esta no começo).
Busque uma academia (se preferir) e busque um professor sério. A Arte Marcial esta em nós, e não em federações ou diplomas. Mas lembre-se, um lutador vive, pensa, come, dorme e acorda, visando seu aprimoramento marcial, então tenha certeza que seu desempenho esta ligado muito mais com seus treinos solitários do que com sua estadia na academia.
Não seja um lutador de finais de semana, nem um lutador bêbado. Lutadores não mostram suas habilidades bêbados entre amigos e também não treinam só no final de semana. O grande mestre Bruce Lee dizia que um lutador deve ‘dar preferência para escadas ao invés de elevadores e estacionar seu carro quadras de distância do seu trabalho, pois assim terá a chance de pelo menos simular uma tonificação dos músculos de sua perna enquanto perde seu tempo com coisas vãs’. Resumindo: faça isso e não perca seu tempo.
Valorizando a tabela
Um lutador também é um cientista, logo, ele mapeia seus resultados. Faça tabelas. Independente do seu estilo de luta crie sua tabela de treino e estabeleça metas. E é lógico: cumpra com essa tabela.
Tabelar é uma boa forma de alcançar objetivos, e o fator psicológico conta e muito no treinamento. Se você sai para comprar pão a pé com o intuito de treinar as pernas, coloque consciência e faça, tenha certeza que você terá bons resultados.
Cuide do seu espírito
Isso mesmo. Independente da religião, um verdadeiro lutador valoriza sua parte interna (ou seu espectro em outra dimensão, coloquei dessa forma pra ficar mais simples de entender). Faça isso, busque aprofundar no seu segmento religioso, e, se possível (e sua religião permitir) medite. Isso mesmo, pratique a meditação, pois um lutador que não medita tem a mente fraca e pouca consciência, e lutadores não são instintivos, são conscientes de seus atos.
Se seu esporte não valoriza a parte interna, saia dele, evite violência gratuita. Analise o comportamento de seu professor, veja se ele tem uma postura reta, é um bom cidadão. Quem não é uma boa pessoa não é um bom lutador.
Essa foi nossa primeira etapa, nas próximas postagens vamos mais a fundo do
nosso corpo, a metodologia de treino e os pontos fortes de todas as artes
marciais, pois não existe a melhor arte, e sim os melhores lutadores. Forte
abraço.